quarta-feira, 19 de dezembro de 2007





Aquela casa trouxe recordações. Lá encontrou a infância. Resgatou a menina, brincou de boneca. Sentiu o cheiro do quarto da mãe, e com o cheiro vieram as lembranças da infância. Veio o colégio, as músicas, as brincadeiras, os receios...os sonhos de criança. A constatação, alguns dos sonhos não foram realizados, outros sim. Ficou encantada com aquela casa. Perplexa com o resgate da infância. Foi crescendo por lá. Ouviu música de adulto. Despertou a vontade de tomar vinho. Foi engolida pelo desejo de ler, diante de tantos livros. O ambiente fascinou. A sensibilidade e sensualidade foram tocadas pelo cheiro do óleo de amêndoas doce. Sente as mãos que passam óleo nos corpos, ouvindo música, tomando vinho. Lambuzados de poesias. Até pensou que se contentaria em massagear as costas com óleo, na desculpa que seria para relaxar. Viu que cresceu demais. Estas idéias já eram por demais adultas. Começou a passear de madrugada. Na espreita. Na madrugada enluarada, olhou as estrelas, ajudou a contar coqueiros, sentou na areia, molhou os pés na espuma do mar e suspirou. Acompanhava passo a passo. Visitava aquela casa diariamente. Vibrava com a quantidade de visitantes, os estilos, a forma que se expressavam. Sempre voltava para deliciosamente saborear os comentários. Verificava, como Deus que transformou a água em vinho, o dono da casa, com as palavras instigantes, transformava pessoas. Analisava cada ser humano que o seguia. As almas transformadas, os corações emocionados, assim como ela. Na calada da madrugada que tanto falava, foi pega numa cilada. Encontrou uma pessoa mais afoita do que ela. Falava de coisas que ela não assumia que pensava. Desejou ser a outra na beleza e na afoiteza. Sorriu, tremeu, sentiu, o pensamento alterou o dia, os atos. Agora tem receio de voltar aquela casa. Foram muitas descobertas. Encontrou-se com a menina e teve que cuidar. Então adulta tinha desejos de adulta. Percebeu que com medo de não ser aceita como mulher, para estar ali abdicou da sua essência. Como os “loucos”, perdeu a identidade. Queria ser um copo para ir a boca, queria ser o leite para ser saboreada, engolida, queria ser o quadro para ser observada, queria ser os livros para ser manuseada, folheada, passada página a página, ser descoberta, queria ser a bonequinha de mãos no queixo a observar, queria ser o girassol para observá-lo, a bonequinha ficava parada, o girassol não, queria ser estrela, queria, queria.....queria apenas ser mulher. Então adulta, teve medo de perder-se completamente na casa. Teve receio de lá retornar. A casa exerce o fascínio do novo, do diferente, das descobertas. Está escrito na porta: “MUDE”.



2 comentários:

layla lauar disse...

E eu queria saber escrever como vocÊ!

Paula Barros disse...

Que isso Layla, deixa de modestia.
Você escreve super bem.