segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014



Acordei com vontade de ir à praia. Era domingo. O sol estava bonito. Podia ir à Fliporto (Festa Literária), ou então ao Recife Antigo andar de bicicleta. Preguiça e indecisão fazem parte de mim. Decidi, vou à praia. Fui até a varanda pegar o maiô que estava estendido. Fui tomar banho e me veio a ideia de ir para a parada de ônibus e pegar o primeiro ônibus que passasse. Mas veio a dúvida, qual parada, sentido subúrbio ou sentido cidade? Outra dúvida, iria até o ponto final ou saltaria no meio do caminho? Dúvidas minam nossos objetivos. E se eu fosse assaltada? E se o ônibus demorasse muito? E se ficasse muito cansada para voltar de ônibus? Precisamos estar firmes em nossos propósitos. Dúvidas e medos gostam de minar nossos sonhos, nossos desejos, nossos projetos. Ao colocar o pé na rua decidi que ficaria na parada que vai para o subúrbio, lado que geralmente não vou, não conheço. Subiria no primeiro ônibus ou iria conhecer Caixa d’água? Ou Peixinhos? Ou Jardim Brasil? Eu já tinha decidido seria o primeiro ônibus que viesse. E o improvável aconteceu, o primeiro ônibus foi Rio Doce. Um ônibus que demora muito a passar, e de todos os destinos este é o que o ponto final é mais longe. Vamos embora nesta aventura. O ônibus passou por Olinda, que vontade de descer. Poderia assistir a missa no Mosteiro de São Bento, ouvindo Cantos Gregorianos. Vejo uma estação de bicicletas, poderia andar de bicicleta por Olinda, seria diferente. Não, eu agora vou até o ponto final – Rio Doce. No trajeto, a orla, a praia. Mas preciso ficar firme no meu propósito ir até o final do percurso. A vida é assim cheia de possibilidades e de caminhos, de atrações que desviam nossa atenção ou nos chamam mais atenção, que podem desviar nossa atenção dos nossos objetivos, ou abrir um leque de novos objetivos. Mas como definir o que é melhor, o nosso objetivo inicial ou o que surge no meio do caminho e do viver? O ônibus saí da beira mar, passa por outra estação de bicicletas. Penso que posso ficar em algum desses lugares na volta. Nem tudo na vida tem volta. Ui, me dá medo este pensamento. Na volta posso não estar mais com vontade de descer, estarei cansada, ou simplesmente perdi o interesse. Às vezes perdemos o interesse nas coisas ou em pessoas que antes nos fez sofrer de tanto interesse que tínhamos. O que eu quero? Esta é sempre uma pergunta fundamental em minha vida. Uma pergunta que muitas vezes me ajuda a seguir nos meus propósitos ou desistir deles. Passo por Bairro Novo, nesta experiência nova. Para alguns esta minha experiência seria uma loucura, para outros despertaria a vontade de fazer o mesmo. O ônibus começou a entrar pelo bairro de Rio Doce. Ruas mais estreitas, dobra aqui, dobra ali, muitas curvas (viver não é em linha reta), as ruas começam a ficar cheias de gente, típico dos subúrbios. Tem uma feira no meio do caminho, o trânsito fica ruim, o motorista buzina insistentemente. Vejo uma placa num salão de belezas, o corte de cabelo é mais barato. Gosto dos subúrbios. De gente na rua. De galetos assando nas churrasqueiras, do cheiro de galeto. Me dá fome. O motorista buzina de novo, e de novo, está em frente a uma igreja Batista. Vejo conjuntos habitacionais mal cuidados, sujos, não vejo nenhum ar condicionado. Deve ser muito quentes, são pequenos apartamentos. As pessoas que estão na rua vestem-se diferente, roupas mais coloridas, óculos de aros coloridos, alguns vestem-se com roupas de praia. Estamos chegando ao terminal, como é domingo, chegamos com quarenta minutos. Desci no terminal, e outras dúvidas, volto ou pego outro ônibus e vou mais adiante. Para onde? Quais ônibus param ali. Observo, Maria Farinha, Loteamento Conceição, Paulista. Preciso ir ao banheiro. Pergunto onde fica o banheiro, me apontam a direção, e eu erro. As informações muitas vezes não são precisas. A atenção e o entendimento também não. Gosto de terminais rodoviários, do vai e vem de pessoas, de ônibus chegando e partindo. Gosto, desde que não seja em dia que eu vá trabalhar. Algumas pessoas reclamam da demora da saída de alguns ônibus. Decidi voltar. Talvez dê para assistir a missa do Mosteiro. Conciliar opções. Estou com calor. Não fotografei em nenhum momento, confesso, tive medo de tirar a máquina fotográfica. Em outros estados não tenho medo, mesmo que seja perigoso. Mas aqui tive medo de me expor. Por medo deixamos de fazer algo, deixamos de fazer muitas coisas. Mas por medo também nos protegemos. Tudo é questão de opção. Subi num ônibus que já sei o trajeto, e que querendo posso saltar em casa. Começo a observar que o preço do galeto vai variando R$ 10,99, R$ 9,99. Detesto estes R$0,99. Num país que não tem moeda de um centavo circulando devia ser proibido colocar estes quebrados. Passamos por um canal sujo, muito lixo e um sofá boiando. O povo suja, e reclama que o governo não limpa. Nunca tinha visto tantos galetos mortos e outros tantos assando. Me senti num campo de concentração galetal. Tantos galetos assando deve ser porque é domingo. Este motorista dirige mais rápido que o anterior. Parece um amolestado, diria alguns, está com a moléstia no couro. Faz uma curva tão rápida que me jogou de lado. Agora já estamos na avenida paralela ao mar. A cada quarteirão de ruas vejo o mar. Na ida céu azul e sol forte, na volta o céu cinza, nublado. O tempo mudou radicalmente. A ida nem sempre é igual a volta. Quando se tem volta. Desço no Varadouro, pergunto onde fica o Mosteiro de São Bento, chego a tempo de assistir a missa e de ouvir os Cantos Gregorianos. É bom quando da tempo de fazer o que estamos com vontade e algo mais. Após a missa, pergunto onde fica a Rua do Amparo, sigo fotografando portas e janelas, e vou lanchar na Bodega de Véio, uma pão francês, com queijo do reino e pastame, uma delícia. Mesmo estando numa cidade litorânea, tomo uma água de coco industrializada. Desço e subo as ladeiras de Olinda ainda fotografando. E volto para casa com a sensação de ter vivido uma boa experiência.





2 comentários:

myra disse...

deveria ter mtos comentarios!!!! adorei!
beijos

O Sibarita disse...

Belo, excelente texto!

Galeto só na posição, oi que maravilha! Bom, né? kkkkkkkkkkkkkkk

Frango assado é outra coisa boa, repare... kkkkkkkkkkk

Ao certo, tem toda razão para que 0,99?

Que belo domingo vc teve, heim? Pena, pena mesmo que não foi com lá ele e de mãos dadas, aaiaiaiaai... kkkkkkkkkkkkkkk

o Sibarita