Acordei com vontade de ir à
praia. Era domingo. O sol estava bonito. Podia ir à Fliporto (Festa Literária),
ou então ao Recife Antigo andar de bicicleta. Preguiça e indecisão fazem parte
de mim. Decidi, vou à praia. Fui até a varanda pegar o maiô que estava
estendido. Fui tomar banho e me veio a ideia de ir para a parada de ônibus e
pegar o primeiro ônibus que passasse. Mas veio a dúvida, qual parada, sentido
subúrbio ou sentido cidade? Outra dúvida, iria até o ponto final ou saltaria no
meio do caminho? Dúvidas minam nossos objetivos. E se eu fosse assaltada? E se
o ônibus demorasse muito? E se ficasse muito cansada para voltar de ônibus?
Precisamos estar firmes em nossos propósitos. Dúvidas e medos gostam de minar
nossos sonhos, nossos desejos, nossos projetos. Ao colocar o pé na rua decidi
que ficaria na parada que vai para o subúrbio, lado que geralmente não vou, não
conheço. Subiria no primeiro ônibus ou iria conhecer Caixa d’água? Ou
Peixinhos? Ou Jardim Brasil? Eu já tinha decidido seria o primeiro ônibus que
viesse. E o improvável aconteceu, o primeiro ônibus foi Rio Doce. Um ônibus que
demora muito a passar, e de todos os destinos este é o que o ponto final é mais
longe. Vamos embora nesta aventura. O ônibus passou por Olinda, que vontade de
descer. Poderia assistir a missa no Mosteiro de São Bento, ouvindo Cantos
Gregorianos. Vejo uma estação de bicicletas, poderia andar de bicicleta por
Olinda, seria diferente. Não, eu agora vou até o ponto final – Rio Doce. No
trajeto, a orla, a praia. Mas preciso ficar firme no meu propósito ir até o
final do percurso. A vida é assim cheia de possibilidades e de caminhos, de
atrações que desviam nossa atenção ou nos chamam mais atenção, que podem
desviar nossa atenção dos nossos objetivos, ou abrir um leque de novos
objetivos. Mas como definir o que é melhor, o nosso objetivo inicial ou o que
surge no meio do caminho e do viver? O ônibus saí da beira mar, passa por outra
estação de bicicletas. Penso que posso ficar em algum desses lugares na volta.
Nem tudo na vida tem volta. Ui, me dá medo este pensamento. Na volta posso não
estar mais com vontade de descer, estarei cansada, ou simplesmente perdi o
interesse. Às vezes perdemos o interesse nas coisas ou em pessoas que antes nos
fez sofrer de tanto interesse que tínhamos. O que eu quero? Esta é sempre uma
pergunta fundamental em minha vida. Uma pergunta que muitas vezes me ajuda a
seguir nos meus propósitos ou desistir deles. Passo por Bairro Novo, nesta
experiência nova. Para alguns esta minha experiência seria uma loucura, para
outros despertaria a vontade de fazer o mesmo. O ônibus começou a entrar pelo
bairro de Rio Doce. Ruas mais estreitas, dobra aqui, dobra ali, muitas curvas
(viver não é em linha reta), as ruas começam a ficar cheias de gente, típico
dos subúrbios. Tem uma feira no meio do caminho, o trânsito fica ruim, o
motorista buzina insistentemente. Vejo uma placa num salão de belezas, o corte
de cabelo é mais barato. Gosto dos subúrbios. De gente na rua. De galetos
assando nas churrasqueiras, do cheiro de galeto. Me dá fome. O motorista buzina
de novo, e de novo, está em frente a uma igreja Batista. Vejo conjuntos
habitacionais mal cuidados, sujos, não vejo nenhum ar condicionado. Deve ser
muito quentes, são pequenos apartamentos. As pessoas que estão na rua vestem-se
diferente, roupas mais coloridas, óculos de aros coloridos, alguns vestem-se
com roupas de praia. Estamos chegando ao terminal, como é domingo, chegamos com
quarenta minutos. Desci no terminal, e outras dúvidas, volto ou pego outro
ônibus e vou mais adiante. Para onde? Quais ônibus param ali. Observo, Maria
Farinha, Loteamento Conceição, Paulista. Preciso ir ao banheiro. Pergunto onde
fica o banheiro, me apontam a direção, e eu erro. As informações muitas vezes
não são precisas. A atenção e o entendimento também não. Gosto de terminais
rodoviários, do vai e vem de pessoas, de ônibus chegando e partindo. Gosto,
desde que não seja em dia que eu vá trabalhar. Algumas pessoas reclamam da
demora da saída de alguns ônibus. Decidi voltar. Talvez dê para assistir a
missa do Mosteiro. Conciliar opções. Estou com calor. Não fotografei em nenhum
momento, confesso, tive medo de tirar a máquina fotográfica. Em outros estados
não tenho medo, mesmo que seja perigoso. Mas aqui tive medo de me expor. Por
medo deixamos de fazer algo, deixamos de fazer muitas coisas. Mas por medo
também nos protegemos. Tudo é questão de opção. Subi num ônibus que já sei o
trajeto, e que querendo posso saltar em casa. Começo a observar que o preço do
galeto vai variando R$ 10,99, R$ 9,99. Detesto estes R$0,99. Num país que não
tem moeda de um centavo circulando devia ser proibido colocar estes quebrados.
Passamos por um canal sujo, muito lixo e um sofá boiando. O povo suja, e
reclama que o governo não limpa. Nunca tinha visto tantos galetos mortos e
outros tantos assando. Me senti num campo de concentração galetal. Tantos
galetos assando deve ser porque é domingo. Este motorista dirige mais rápido
que o anterior. Parece um amolestado, diria alguns, está com a moléstia no
couro. Faz uma curva tão rápida que me jogou de lado. Agora já estamos na
avenida paralela ao mar. A cada quarteirão de ruas vejo o mar. Na ida céu azul
e sol forte, na volta o céu cinza, nublado. O tempo mudou radicalmente. A ida
nem sempre é igual a volta. Quando se tem volta. Desço no Varadouro, pergunto
onde fica o Mosteiro de São Bento, chego a tempo de assistir a missa e de ouvir
os Cantos Gregorianos. É bom quando da tempo de fazer o que estamos com vontade
e algo mais. Após a missa, pergunto onde fica a Rua do Amparo, sigo
fotografando portas e janelas, e vou lanchar na Bodega de Véio, uma pão
francês, com queijo do reino e pastame, uma delícia. Mesmo estando numa cidade litorânea,
tomo uma água de coco industrializada. Desço e subo as ladeiras de Olinda ainda
fotografando. E volto para casa com a sensação de ter vivido uma boa
experiência.
2 comentários:
deveria ter mtos comentarios!!!! adorei!
beijos
Belo, excelente texto!
Galeto só na posição, oi que maravilha! Bom, né? kkkkkkkkkkkkkkk
Frango assado é outra coisa boa, repare... kkkkkkkkkkk
Ao certo, tem toda razão para que 0,99?
Que belo domingo vc teve, heim? Pena, pena mesmo que não foi com lá ele e de mãos dadas, aaiaiaiaai... kkkkkkkkkkkkkkk
o Sibarita
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