terça-feira, 4 de dezembro de 2007





Vai sair. O ritual começa. Maravilhosa, poderosa, reflete no espelho a imagem da mulher sensual. Cabelos dourados, cintura fina, quadris grosso, pernas torneadas. Separa todos os apetrechos para torná-la mais bela. Roupas, sapatos e bolsas combinando, maquiagem bem colorida, o batom vermelho carmim, este não pode faltar. Cremes para o corpo, o do rosto é diferente, a pele é diferente explicava. Perfume francês. As unhas compridas, pintadas de vermelho bem vivo, sempre. Acho que já nasceu com as unhas pintadas de vermelho. O quarto, o camarim da artista principal, o modelo já mais alcançado. A criança observa todos os movimentos daquela transformação. Sonha o dia que será adulta. Não qualquer adulta, qualquer mulher, quer ser como aquela ali. Imagina-se vaidosa, seguindo o mesmo ritual e tornando-se maravilhosa e sensual. Não será loura, já sabe. Talvez bonita. Esta certeza até hoje não tem. A mãe sai. A criança entra em cena, a imita. Usa a maquiagem, o sapato de salto alto e fino, o vestido, a bolsa a tiracolo, pinta os lábios de batom bem vermelho, as unhas roídas tornam-se grandes e pintadas de vermelho. Passeia pelo quarto, pela casa, pelo mundo encantado. Sente-se adulta. Na sua fantasia é bonita, elegante e até loira. Na imaginação pode tudo. Tudo isto está envolto em cheiros. Cheiro de aventura. Cheiro de mistério. Cheiro de brincadeira proibida. Dos saltos altos quebrados, do batom partido, da sombra derramada. Da reclamação que está por vir. Da criança que ficou perfumada, de perfume francês. Assim como a mãe, como o quarto e a casa que exalavam Fleurs de Rocaille. Cheiro bom. De saudade, de fantasia. De tudo que a cabeça de uma criança cria e pode imaginar.



5 comentários:

Dado disse...

Gostei do teu blog. Vou linkar lá no Horóscopo. E Chico existe sim.

Paula Barros disse...

Que bom Eduardo que Chico existe, então é curtir bem muito. Obrigada pelo comentário e por linkar.

Anônimo disse...

Dois mundos um mesmo coração e Fleurs de Rocaille.

Bjs
Ana

Anônimo disse...

Olá, Paula! Parabéns! Que bom, não sabia que tinha mais escritora em casa...Assim se faz, dando o primeiro passo... Não é bem para comparar, mas dá para perceber o estilo da Dja perpassando, o que só enriquece, não? Filho de peixe,

Maria José

Edson Marques disse...

Paula,

Belíssimo texto!

Fantástico cheiro de saudade..

Abraços, flores, estrelas.

(Obrigado pela citação).