quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O galo canta no meio da tarde, me assusto. Penso estar raiando o dia. Sou do tempo que o galo cantava logo cedo, anunciando o despertar do dia. Com ele, acordava o meu avô que passava deslizando os chinelos pelo corredor em direção à varanda. Abria a porta, acendia o cigarro, se debruçava no parapeito da varanda olhando a rua.
Sempre estava acordada esperando as primeiras cores do dia. Ás vezes estava debaixo da mesa da sala espiando pela janela a mudança da noite para o dia, o descortinar do céu. O céu que engolia a noite e paria o dia.
O galo acordava meu avô, assim pensava. Embaixo da mesa tremia com medo de ser descoberta. Não tinha intimidade com o meu avô para ver o dia nascer, debruçada na varanda junto com ele. Tinha medo do jeito sisudo que ele tinha. Depois que ele passava corria para a cama. Adormecia, imaginando o que ele via.





30 comentários:

Cleo disse...

Paulinha!
Linda crônica com reminicências de um tempo guardado na memória, um tempo colorido, lúdico, onde captávamos tudo com os olhos da alma, ainda sem vícios.
Beleza!

Beijos de arco-íris prá ti.
Cleo

Phantom of the Opera disse...

O galo canta anunciando a noite, tal como o amanhecer as cores misturam-se dando origem a uma beleza ímpar.

Tal como o amanhecer que desperta a alma o anoitecer adormece os sentidos.

Beijo nocturno

:.tossan® disse...

Vc fez eu lembrar do meu avô, isto sim que é uma ótima lembrança. Parece que hoje é o dia da saudade!
bj

Olavo disse...

Muito bonita essa lembrança em forma de poesia..bons tempos de infancia...lembro de muitos tambem
beijos

Leo Mandoki, Jr. disse...

gosto de textos assim: enxutos de adjetivos!! um texto só com substantivos. Esses são verdadeiros textos que nos tocam na alma. Mto bom!
É bastante curioso com há momentos que nos ficam cravados na memória né?!! podemos durar 200 anos e sabemos que nca os esqueceremos.
beijos!!

Anônimo disse...

O mundo anda virado do avesso, agora até os galos cantam fora de horas. Lá teremos que comprar um despertador. Gostei muito do texto.

Amarísio Araújo disse...

Muito bonita a sua crônica,Paula. Um lirismo puro que me emocionou,
transportou-me para a minha infância.
Obrigado pelo prazer que você me proporcionou aqui.
Um ótimo dia pra você.
Beijos.

ex-controlador de tráfego aéreo disse...

Oi Paulinha,

Esses "fragmentos" é que compõem a verdadeira história de cada um de nós. Nos torna humanos e merecedores dessa memória maravilhosa, desse acervo pessoal que nos conduz vida afora, sem medo de ser feliz.

Um beijo pantaneiro!!!

ex-controlador de tráfego aéreo disse...

Oi Paulinha,

Voltei pra falar da foto das ruínas que aparece no blog, ficou muito bonita.

Parabéns!

Um beijo de novo!!!

* Lília * disse...

Pintaste, assim, uma paisagem rural. Veio-me essa imagem.


Beijos pra ti!

Homero, O Truculento disse...

Está vendo, por isso eu digo que o nascer do sol é mais legal que o por do sol. Bom texto.

Quanto ao galo cantar de tarde. Devia estar se exibendo para alguma galinha nova no terreiro.

Abraços.

Colibri disse...

Cara amiga,

Quantas recordações nos deixam as janelas da vida...

O meu avô parterno também era uma figura muito austera e sempre mal disposto. Nunca tive afinidade com ele... Ele achava que só ele tinha razão em tudo e não acreditava que o Homem tivesse ido à lua... Achava que era tudo armação da televisão.

O meu avô materno morreu quando a minhã mãe ainda era solteira, mas tenho relatos de ser uma pessoa de mentalidade bem atrasada... Nem sequer deixou a minha mãe ir à escola porque considerava que as mulheres não precisavam de formação, apenas de ficar em casa...

Tristemente relembro isso...

Beijos, querida amiga

Colibri
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As minhas últimas rapidinhas nos blogs…
Quero de volta o meu grito de guerra!
Parte 9 – Saltinho a Cabinda...
Macros do outro mundo (parte 1)
Tenho novo Blog – Cair na Gandaia (Só é obrigatório rir…)

Anônimo disse...

Galo dorminhoco...

Ou será que, astuto, canta exatamente para acordar quem dorme até mais tarde?!


Atende a um outro segmento do mercado... rs!


Abraços, flores, estrelas.

Everson Russo disse...

Linda descrição daquelas passagens da vida que ficam eternamente guardadas na memoria, aqueles dias que nao voltam mais, aqueles tempos que nos deixam uma saudade gostosa da vida...beijos minha doce poetisa, tenha uma linda tarde...

Colibri disse...

Queida amiga,

O que eu pretendi dizer em ter ficado triste é de considerar que minha mãe poderia ter sido professora tal como ela sempre sonhou mas a cultura intituída no meio em que ela vivi não lhe ofereceu essa possibilidade...

Mas penso exactamente como você... A análise do passado permite-nos ser diferentes e melhores no presente e no futuro...

São principalmente nossos filhos que beneficiam com isso e é assim que deve de ser...

Beijinhos

Colibri
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Iana disse...

Linda amiga
que grandioso seu texto
li e confesso que me fez viajar no tempo...

Lembranças vem e vão... lembranças que o tempo não apaga, apenas adormecem dentro de nós...
belissimo seu texto... O meu amado Colibri pelo visto também viajou no tempo... :)

Linda tb venho hoje trazer-te um mimo, tenho deixado hoje nos blogs das amigas... fala da beleza da mulher... espero que goste... é do meu Amigo Gustavo Drummond

Beleza feminina,
Mulher, rosa-menina.
Personificação do belo.
Codinome: Sensibilidade.
Solo de vioncelo.

Sem data, idade.
Que há de mais sublime,
Imagem que redime.
Guerreira urbana,
Graça humana.

Fruta da estação.
Ode, hino, oração.
Canto de encanto,
Mistério, companheira.
Seu mister é santo.

Sua messe uma bandeira.
Mãe, namorada, diva.
Presença que cativa.
Meiga, dócil, ópio.
Inebria a vida.

Vida querida.
Razão dos versos meus,
Obra mais inspirada de Deus!...
[gustavo drummond]

Beijos de luz
rosa amiga
Iana!!!

Camila disse...

Olha... hoje estava falando de meu avô (falecido).
Ele não era sisudo, mas tinha medo dele... medo não, respeito.
Ele faz tanta falta naquela varanda...
Saudade de vc, querida!
Beijos

Anônimo disse...

É Paulinha lembranças de uma infância...Que com certeza só teve alegrias...Abraços

Anônimo disse...

É Paulinha lembranças de uma infância...Que com certeza só teve alegrias...Abraços

Nanda Assis disse...

pois aqui o galo canta cedo e acorda a turma toda. rsrsrs

bjosss...

Jardineiro de Plantão disse...

Gosto de ouvir cantar o Galo pela manhã ... já estive para comprar um ... desses tipo periquito... bem pequeno para o ter no meu jardim... mas só ficou a ideia... pois a bekas, lhe acabava logo com o cantar.

Me fez ter saudades do meu Avô Alfredo, pois o Avô João não o conheci.

Abraços

Bandys disse...

Paula,

Sinto muita saudade do meu avô.
Nossa me lembrou varias historias.
beijos

meus instantes e momentos disse...

legal, bonito, puro, simples. Medrosa, ansiosa, o medo da descoberta. O de ser descoberta, mas fica, mas faz.
Esse lindo texto ...é todo voce Paula.
Parabens....sempre

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá minha querida Paulinha, a mim também fizeste recuar no tempo, estar no campo, na minha infãncia e acordar com o canto do galo... Recordações lindas...Amiga, Obrigada por existires... Beijinhos de carinho e ternura,
Fernandinha

Vivian disse...

...este texto não poderia jamais ser escrito por outra pessoa que não fosse você, Paulinha alma de cristal!!

com ele viajei para um passado
distante, onde eu não sabia
que viver era tão complicado...rs,e é claro os galos
cantavam às 4 da matina..rss

muahhhhhhhhhhhh, lindeza!

Anônimo disse...

Nossa que lembrança gostosa de tempos passados...

beijos

Sol da meia noite disse...

O cantar do galo despertou lembranças de outros tempos...
É assim, ao longo da vida... Momentos que nos lembram momentos...

As situações mudaram, mas o galo continua a cantar... em ti.


Um beijinho *

o que me vier à real gana disse...

Olá!

Quem sabe o teu avô não desfrutaria com maior intensidade a beleza do desvanecer do crepúsculo matinal, ao teu lado!?

Belo texto!

Maria Dias disse...

Lembrando os tempos bons de criança q não voltam mais né?Recordar é viver moça!

Adorei a lembrança...

Beijo!

Anônimo disse...

Lembranças que mesclam a curiosidade da menina que já trazia a poesia no coração e que queria ver o "céu que engolia a noite e paria o dia", e o receio de ver esta magia acontecendo junto ao avô na varanda. Na certa perdeste a oportunidade de acrescentar mais esta lembrança doce na sua memória, mas com certeza ele perdeu um momento de maior ternura junto da netinha 'curiosa'.

Linda esta crônica permeando tuas lembranças"