segunda-feira, 2 de junho de 2008




Ele tinha os olhos azuis. Um azul da cor do céu em dia ensolarado e sem nuvem. Do céu do meu Nordeste. Ficava olhando para aqueles olhos do homem alto, esguio e sereno. Será que ele vê tudo azul? De que cor ele me vê? Não lembro se ele falava. Lembro tão pouco dele. Os olhos eram distantes, ele era distante. Os olhos talvez tivessem a secura e a tristeza do sertão. Não sei se andava ou se carregava o peso de uma vida sem entusiasmo. Lembrei do cágado que ele criava, tão silencioso e carrancudo quanto ele. Talvez fosse feito aquele animal, carregava a casa nas costas, andando lentamente e a cabeça voltada para o chão. Nos domingos o encontrávamos na garagem, um pouco fechada, um pouco aberta, escura. Sempre queria saber o que fazia ali. Faz tanto tempo, que se vi algo ou se me responderam não lembro. Carinho, beijo e sorriso não faziam parte do universo dele. Fumava, disso lembro. Jogava o resto do cigarro pela janela e eu brincava fazendo de conta que fumava. De que cor enxergava o mundo, a vida, os amores, com aqueles olhos azuis? Um dia chegou a notícia, morreu. Não sei o que senti. Talvez tenha ficado triste de ver o filho dele, o meu pai, triste, sentado num canto do terraço, com as luzes apagadas. Pensando, sem eu saber o quê. Sentindo, sem expressar. Só o silêncio. Às vezes penso que a morte fez ele andar livremente. Os olhos azuis sorrirem aliviados. E sentir a vida mais leve e colorida.





22 comentários:

Anônimo disse...

A morte é a oportunidade de rever sua alma e corrigir os erros,acredito nisso,que nunca paramos,estamos sempre em evolução...belo post Paula!!que sua sensibilidade seja sempre assim,apurada e cheia de beleza,te dessejo muita luz,muita paz e realizações!!!!obrigada pelo carinho,incentivo,seu blog que é lindo como você!!

Unknown disse...

Talvez ele visse o mundo não azul como seus proprios olhos, mas via de uma maneira unica, simples, decisiva, ou talvez já o via se despedindo por algum motivo qualquer...beijos e uma linda noite a ti minha querida...

Anônimo disse...

Paula,

Quando os olhos têm a cor azul-nordeste, nunca morrem!


Azul-nordeste...

Ainda vou pintar os meus com essa cor!


Abraços, flores, estrelas!

Anônimo disse...

No post de anteontem não era um burguês reclamando do vinho, mas um jovem mestre zen preparando uma profunda lição moral.
Aguarde, por favor.
Ainda não me julgue... rs!
Não costumo dar pontos sem nós.
Nem laços.
Nem sozinho.

Abraços, flores, estrelas..

Anônimo disse...

Quando eu era mais novo, eu também me perguntava que cor as pessoas enxergavam o mundo, se era da mesma cor que eu. Estranho, né?! Hoje me faço tantas outras perguntas que me esqueci desta.

Dr. Fácil disse...

Agora esses olhos azuis fazem parte dos dias mais limpos do céu. E olham por todos, pode apostar. Beijos Paula!

MONICAVOX disse...

querida Paula,as cores com as quais enxergamos a vida,mudam ao longo do tempo.Porque mudamos também.Bela crônica, parabéns.
que seu dia seja iluminado e azul da cor do céu.
bjus,walk on forever,monicavox

Poeta Mauro Rocha disse...

Paula, texto reflexivo, um dia a morte vai beber comigo, ficarei leve então?

Parabéns pelo texto, belo.

MAURO ROCHA

uM ABRAÇO E BEIJO.

Anônimo disse...

Linda Paula,azul é pureza,embora muitos nao carreguem consigo,mas com certeza,se ele era observador,está em algum lugar lindo,observando a vida e tentando aprender mais ainda,bjs mágicos linda!

Anônimo disse...

Eu não sei o motivo. Mas os pares de olhos azuis mais lindos que eu conheço são sempre os mais distantes.
Acho que é o mistério por trás dessa ausência que me fascina tanto.

beijos

Anônimo disse...

Excelente crônica. Nunca há de faltar assunto para os sensíveis, os observadores aguçados. Beijos

Bandys disse...

Belo texto.
Tenho uma par de olhos azuis bem juntinho de mim.
Alias são os olhos mais bonitos que ja vi na minha vida.
Beijos

Anônimo disse...

Vc descreveu muito bem sobre esta situação vivida. E procurou estar nos olhos dele para tentar ver o mundo de outra forma. Azul ou não, quem proporciona as cores para a vida, somos nós mesmos! abraço Paula

Ricardo Rayol disse...

vislumbro sempre o azul, as vezes celestial, as vezes marinho, e nem tão ferequente, o azul negro profundo da mortalha.

layla lauar disse...

Lindo post Paula, amei...faz pouco tempo mergulhei num par de olhos azuis... atraída pela beleza deles, mas eram tão gelados...

beijos amiga

Bosco Ferreira disse...

As belas cores da vida são pintadas pela arte de viver... Boa noite amiga.

Unknown disse...

Passando pra deixar um beijo carinhoso e te desejar uma otima noite...

Anônimo disse...

Nem sempre o qie parece bonito é realmente belo.

Anônimo disse...

Que saudades paula e que triste mas uma reflexão cheia de sentimentos velados em todo o silêncio que expressa. Amiga além da correria em que me encontro as coisas estão se encaminhando, esta semana vou ver outra opinião de um outro neuro, vamos ver no que vai dar tudo isso, espero que acabe igual ao cartão coorporativo. EM Pizza. kkkk. bjs e ate breve.

Anônimo disse...

Que coisa mais linda! o azul nos traz a, paz .Ele te enchergava sim ,com os olhos da alma.
A morte nada mais é do que o inicio de uma vida eterna. seu blog delicado e nos faz refetir muito adoro esse cantinho bjs mika*

djanirasilva disse...

Paula, acho que foi uma das coisas mais bonitas que você já escreveu. Mude a cor dos olhos e estará falando do seu pai. A forma de ser e olhar para o mundo era a mesma.Um beijo - Mãe

Anônimo disse...

Meu DEUS Paula, você me surpreende, penso que te conheço, mas ao ler algo assim, fico triste, fico feliz, fico parada, pesando e revivendo o pouco daquilo que lembro da minha vida, da minha infância, aí percebo como você é surpreendente, é apaixonante e apaixonada, e só aí percebo como conhecemos pouco as pessoas, principalmente aquelas que convivemos. Você sempre me fazendo pensar, me levando a caminhos esquecidos. Obrigada e TE AMOOOOOOOOOOOOOOOO por tudo.Maria Cecília!