terça-feira, 27 de janeiro de 2009

foto Paula Barros
Comecei a caminhada e fui juntando palavras pelo caminho como quem coleciona seixos coloridos. Seguia a trilha dia após dia. Se o trem atrasava voltava à estação quantas vezes fosse preciso. Olhava o relógio da Catedral lá no alto, ansiosa. Relia a paisagem pintada nesse trajeto sem fim. Fui fazendo da caminhada um seriado de mim. Os bem-te-vis cantavam alegremente. Eu, inquieta, cantava a cada passo – vem, vem, vem, vem....melodiosamente. Parecia o chiado da cadeira de balanço na varada. Com o tempo fui percebendo que seu caminho ia mudando de rumo. Então inverti a estrada. Tive medo de embaralhar a bússola. Na labirintite do meu ser percebi que seu caminho agora é diferente. Fiquei engasgada com a poeira da estrada. Me apoderei de mim, cavalguei as palavras com as rédeas em punho. Risquei a estrada. Esperei baixar a densa nuvem. Observei. Espantada, emocionada e cheia de dúvidas. Passeando por entre pensamentos e pés de palavras passei na porta da Igreja. Estavas lá. Observei minuciosamente cada músculo de vírgulas e pontos, tentava cheirar o sentimento. Receosa das minhas mal traçadas linhas e dos meus pés andarilhos, cortei caminho. Subi ao monte, não era dos ventos uivantes, nem das oliveiras, era o seu monte de palavras juntas. Por vezes sem sentido para mim, com muito sentido para você, imagino. As vezes penso que também estás sem ver sentido. Sem ver o horizonte que imaginavas alcançar. Vivo entre a fantasia e a realidade. Entre o prazer e culpa. Então comecei a distanciar, a escrever por caminhos desviantes, fazendo percursos intrigantes.

31 comentários:

Codinome Beija-Flor disse...

Fico só pensando no dia que eu entrar numa livraria e der com a seguinte imagem:

Seu livro em exposição - "A Andarilha" de Paula Barros.
Vou pegar o meu, sentirei o cheiro das páginas, como faço com todos meus livros.
Depois vou suspirar e falarei com meus botões: "Minha amiga da blogosfera agora também em papel (livro)."

Beijo

Unknown disse...

Curso com Raimundo Carrero?!! Parabens. Tambem tenho vontade de fazer. Ainda organizo meu tempo para isto, ou melhor, priorizo.

bjs

Dona Sra. Urtigão disse...

Alem das fotos, as imagens produzidas pelas palavras, a forma com que joga com elas, é bom demais passear por aqui.

Anônimo disse...

E a gente vai se enveredando por esses caminhos intrigantes e, quando a gente vê, já não consegue mais sair.

Ava disse...

"Vivo entre a fantasia e a realidade. Entre o prazer e culpa."
Intrigante sua "Andarilha"...
Venho acampnahndo e as vezes me perco..
Tantas mensagens sublimares...
Vc é ótima com as palavras!

Adoro ler tudo que vc escreve...

Beijos e carinhos!

Ava disse...

ops...

É mensagem subliminar.

Acho que é essa a palavra... rs

Vivian disse...

ai num guênto...
vou fazer uma brincadeira
com esta andarilha das letras
bem postas, como mesa de
palacete.

eu acho que você subiu em
cima das letras por conta
da labirintite que eu lí
aí em cima no começo do post..
rssssssss

sorry, my love

Nanda Assis disse...

mesmo rodiando, subindo e descendo, mesmo com os pés cansados, e as vistas embaralhadas de tantas paisagens diferentes, mesmo assim seu caminho, de pedras, é o mesmo.
ainda não teve forças de mudar completamente de rumo.
lindo seu texto paulinha.
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bjosss...

Uma aprendiz disse...

Ai meu Deus, quem é esse Taimundo Carrero? kkkk

Lindo, lindo, lindo.
Também espero ganhar um livro autografo seu.

Seu texto me fez pensar em quantas vezes não li as placas indicativas, ao longo da estrada. Quantas marcas, galhos, pequenas pedras que encontrei. Eram sinais, impercepíveis ao coração deslumbrado e sonhador. Não entendi. Sentei-me a beira do caminho.
E, assim como no seu texto:
"Vivo entre a fantasia e a realidade. Entre o prazer e a culpa."

Ainda não consigo ler as placas, decifrar as meias-verdades, um olhar distânte. Umas eu "adivinho", outras imagino a tradução. Desisti de construir "moinhos". Perdi a bússola do coração. Sigo o trajeto natural do rio.

Bom dia!

vagabundo disse...

"...mal traçadas linhas..."

tão mal traçadas fossem as minhas,
e eu me sentiria... Imenso.
enorme na arte e no engenho,
e nesse saber, que assim não tenho,
ou dono de um sentimento, tão intenso.

"...engasgada com a poeira da estrada."

engasgado eu fiquei,
com a sofreguidão com que traguei
cada uma das suas palavras...
monte de palavras juntas, e tão arrumadas,
sem segredos para si, domesticadas
que faz das letras...suas escravas.

a dizer,
apenas e tão somente...
Lindo!

Amarísio Araújo disse...

Sei não,Paula,mas esse monte ao qual a andarilha chegou na caminhada de hoje me parece ter uma certa afinidade com o das oliveiras,para o desabafo das incertezas...
Muito intrigante esse caminhar da andarilha,sempre envolvida nos mistérios das palavras.
Tenha um lindo dia.
Abraços.

Diogo Caceres disse...

Bom dia Paula... que bom que a andarilha continua sua jornada!!
Espero que a cada passo encontre os tesouros mais sublimes de viver!!!
Afinal se muitos caminhos levam a Roma, imagine qtos nos conduzem as paragens de nosso alma... como disse Jesus: O Reino de Deus está dentro de vós!!
Parabens pelo seu templo de palavras amiga... abraço!!!

Poeta Mauro Rocha disse...

Viva sempre entre as dúvidas do saber e do querer, pois a vida é única.Seu texto está sublime.

Bjs!

Anônimo disse...

Gosto das suas andanças!!!continua!!!

Juliana disse...

As vezes os caminhos que optamos por seguir nao nos levam exatamente aonde nós imaginavamos, mas as vezesé uma surpresa boa! Se não for, basta se virar e recomeçar!

djanirasilva disse...

Paula, desculpe a expressa, não encontrei outra para o meu entusiasmo: que texto arretado!!!!!!!!!

:.tossan® disse...

Caminhar é vida! Saúde e cabeça boa! Belo texto! Bj

Anônimo disse...

Só uma palavra para esse texto: MAGNÍFICO.

PS: Estou ancioso por su estréia na Casa do Poeta. Bjus.

http://so-pensando.blogspot.com

Anônimo disse...

Tudo que é intrigante é bom e convidadivo, a gente fica sempre fazendo nossas conclusões, erradas e certas, são esses os caminhos que a vida nos sugere, o do erro e o do acerto, muitas vezes nos embaraçamos nas palavras, mas são elas tambem que nos tiram do embaraço, se nosso caminho está confuso, que trilhemos outros, não existe mesmo a possibilidade de parar e ficar esperando que o futuro venha, nós é que temos que caminhar até ele, muitas vezes até nossas mal traçadas linhas nos levam a algum lugar, nem que seja a um vazio em nós mesmos....muitos beijos pra ti e uma otima tarde....

Café da Madrugada® Lipp & Van. disse...

Olá!
que textos ein!
Aliás, todos que pude ler aqui até agora, são otimos!

criei um blog com um amigo.
http://xcafedamadrugadax.blogspot.com
adicionei o link daqui lá.
:D

se puder, faz uma visitinha?
=) Beijos ! Van.

vieira calado disse...

Pois, amiga!

Sempre vivemos entre a fantasia e a realidade. É bem verdade.

Bjs

Dona Sra. Urtigão disse...

Paula, passe no bicho-da-mata e pegue um prmio dardos para voce. Seu blog merece.
Abraço.

Anônimo disse...

Parabéns, Paulinha. Bela crônica.bjs e dias felizes

Camila disse...

Adoro conhecer igrejas! Acho tão gostoso entrar em novos templos.

Beijo e continue caminhando e mostrando pra gente o que teus olhos viram...

Pena disse...

Simplesmente, ADMIRÁVEL!
Beijinhos

pena

OBRIGADO pela simpática e linda visita...
Um texto sem palavras...Adorei!

Lay Santana disse...

As vezes é bom subir o monte das palavras juntas e tentar desvendá-las não é mesmo?
O jeito certo de viver é este mesmo "entre a fantasia e a realidade. Entre o parzer e a culpa." Iso nos faz ponderar nossos atos, colorindo a vida.

Beijos.

Franzé Oliveira disse...

UM DEVANEIO!!!

A liberdade vem de não pensar em nada. Como desapropriar nossa mente desse mundo e ser livre? É muito sério. Não escolho palavras para falar. Não uso da prudência. Não posso ser desonesto. Não existe verdade. Isso é verdade? Então existe verdade. Para quer descutir. Ser livre é, como disse Pessoa, não pensar. Quando não se tem nada para lembrar, nada para perdoar e ser perdoado, nada a esconder nos faz estar em plena leveza, Livre. Mas, como não pensar em nada? Apagar nossa história? Portanto, só somos livres no ventre de nossas mães? Quando somos embriões? Ao nascermos se tornamos escravos. A vida começa a nos prender desde cedo. A ditar nosso rumo. Nunca mais seremos livres. Não somos livres. As nossas vontades e desejos sempre estão presos a algo. A própria necessidade de comer já nos prende. As outras necessidades, passamos a vida pensando como conquistá-las. Criamos laços e história. Adeus liberdade. Quem segue seus próprios passos é quem mais se aproxima da liberdade. Quem assim aje é visto pelos outros cárceres da vida como loucos. Desligue a TV, desligue o som, pare de pensar e vá ser livre. Entende?

VilmaSouza disse...

oi amiga vim aqui pra deixar o meu carinho e avisar que tem um meme pra você lá na minha casa então passe por lá e responda quando puder e se por acaso o desejar. Beijos e uma quinta maravilhosa cheia de luz, amor e muita paz.

Zek disse...

Mudando o percurso.... indo por caminhos diferentes, mas caminhando.

Horas olhando o chão... passos devagar sentindo com cuidado o pisar o chão, mas caminhando.

Olhando a paisagem.. comparando a vida que também muda, mas caminhando.

Vivendo cada dia, olhando sempre para frente e rapidamente para trás, mas caminhando.

É assim né!!

Bjs!!

Jardineiro de Plantão disse...

Vou ser parco nas palavras...

Esta Andarilha eu quero seguir... a hei-de encontrar numa qualquer estação e comprar seus livros.


Observei minuciosamente cada músculo de vírgulas e pontos, tentava cheirar o sentimento.


XiCoração afectuoso

Sol da meia noite disse...

As pedras do caminho nem sempre são iguais... existem pedras e pedras...
O segredo está em as irmos apanhando e ir construindo caminhos que nossos pés trilharão.

Amiga, um beijinho *