quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Desencontro do encontro

série: para um imaginado amigo





O muito às vezes é muito
O muito carinho que eu lhe tinha
A muita admiração
O muito cuidado
Era muito

Assustou, invadiu, afastou
Talvez um dia na sua vida
Você desejou ter
Muito carinho, muita admiração, muito cuidado
Mas não de qualquer um

Porque o muito, vindo de qualquer um
É apenas muito
É algo estranho, incomoda, invade, assusta, afasta, irrita
Porque queremos algo
Não significa que queremos de qualquer um

E assim seguimos os nossos dias
Os meus sentimentos era uma porção de muito
Sem nenhum significado, nem significante
Para as suas carências, as suas ausências, os seus vazios
O meu muito não lhe preenchia em nada

Agora estou aqui
Cheia de muito carinho
Repleta de muita admiração
Com sentimentos de cuidado
Mas não posso dar a qualquer um




texto - 04.06.11
foto: Cemitério da Recoleta - Buenos Aires

13 comentários:

Lucia disse...

Vocẽ está errada sobre isso "O meu muito não lhe preenchia em nada"

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
myra disse...

"Não sou escritora. Sou fofoqueira do que escuto dos meus sentimentos e pensamentos."

é muito verdade o que diz no teu profilo, sabe eu sou como voce!!! so que nao escrevo tao bem, alias faz tempo que nao escrevo nada...
eqto ao que diz no escrito hoje, sim, nao se pode dar o nosso sentimento a qualquer um...
beijos minha queridissima Paula

Anônimo disse...

Um poema intenso, fala de quantidade de sentimento.
Tanto coração brilhando...

Talvez na tua presença o desejo seja tanto,Muito
que só há de querer, aceitar
sem que insistas...
A certeza vela atrás de um muro
ou dorme num poço
onde nada se escuta ou avista.

Um beijo

mfc disse...

Um tema muito bem tratado!
É importantíssimo ter essa noção da abundância redutora!

Rui Pires - Olhar d'Ouro disse...

Que dizer por tamanha inspiração, penso que uma adaptação para um filme, seria interessante, seria certamente um bom tema para começo!
Gostei!
Bj

A. disse...

A oferta insistente torna-se enfadonha!... Um beijo na mão seguido de muitos outros beijos na mesma mão, significa o mesmo do que não interessa; apenas preenche um vazio que, dentro de alguns, é uma porção de nada cercada de tudo que não interessa, por todos os lados!... A insistência dos vazios apenas preenche o vazio desses mesmos vazios que, por o serem, sentem-se sempre cheios de uma espécie de amor banal e, na verdade, também ele vazio!... Uma questão de capacidade para o saber ser, para o dar e, acima de todos os vazios, como um tampão, o respeitar!... São enfadonhos os cachorrinhos e suas caudas autónomas sempre reivindicando a independência do “animal”, como se a extensão traseira sobrevivesse por conta própria, no caso de ser amada, a cauda, por quem seus movimentos servis se agitam constantemente!... Naqueles rápidos movimentos enfadonhos procurando cortar a fita da meta… por antecipação!... Acontece, sem surpresa, que muitas caudas serão “Damas de Honor”, também elas enfadonhas, que pegarão as pontas da cauda virgem e branca, acessório a que sempre se propuseram!... Não se pode dar tudo a quem está cheio, muito cheio, de tudo que não nos interessa… apenas são suportados na medida do possível e por uma questão de delicadeza e alguma gratidão e, esta, também enfadonha!... Nas verdade, não se tem de dar nada a quem tudo espera pelo nada que oferece!... Por ser enfadonho... por tão oferecido!...
O desafio pode ser uma luta eterna sem batalhas ganhas… ou perdidas!... Ainda que essa luta, pela razão desse desafio, já represente uma Vitória… talvez merecida!... As derrotas são considerações de cada um!... Lutas pessoais e quase intransmissíveis!... Coisas que não se dão nem ninguém as espera, mesmo que insistam em pedi-las!...



Abraço

Branca disse...

Paula,

Seu texto é tão verdadeiro e tu escreves cada vez melhor e com uma enorme lucidez.

Beijos

Paulo Francisco disse...

Belo poema!

Paula, este sentimento todo yem que ser canalizado para algum lugar. Que tal mais poemas?
Gostei muito.
Há palavras por aqui.
Um beijo grande

Sotnas disse...

Olá Paula, que tudo esteja bem contigo!

Com certeza não era merecedor de tal quantidade, ou mesmo somente queria ser, antes de saber o quão seria intenso o que teria a receber. Não se culpe que o merecedor com certeza vai surgir e haverá esta troca de tudo tão intenso com tanta semelhança quanto necessário!

Deveras intenso este teu texto, e ainda segue uma bela imagem deste impressionante ser humano. Em um local que ele se sente o mais vulnerável dos seres ele também vê e deixa sentimento e beleza eternizada em obras de intensa arte!

São tantos belos feitos do homem nestes cemitérios.
Grato por tuas visitas e gentis comentários, eu sempre desejo a você e todos ao redor intenso e feliz viver, enorme abraço e até mais!

Nanda Assis disse...

E é nessa hora que transbordamos.

bjos...

Dona Sra. Urtigão disse...

Gosto do uso que voce faz das palavras; elas dançam, criam, forma, a partir de voce. Mas não gosto do tema amortristezadorsolidão. Quanto mais essas palavras são repetidas, mais elas formam ações. Forma-pensamento.
Abraço !

eder ribeiro disse...

Paula, eu que muito aprendo qdo te leio. Tudo em excesso sufoca. Bjos.