Uma tarde na casa de vó.
Cuidado menina, você vai cair. Só anda correndo essa menina. Dá um beijo na vó. Assim eu entrava na casa dela. Sempre correndo, ansiosa para ouvir as histórias que contava. Me colocava no tamborete, junto à mesa da cozinha. Meus pezinhos nem tocavam no chão, ficavam rodopiando no ar, igual a minha cabecinha.Vó conta logo, conta logo. Sorria, se avexe não menina. Entre mexer uma e outra panela, contava as mais belas histórias que já ouvi. Hoje tenho certeza que ela inventava, ou modificava, nunca li, nem escutei nada igual. Tinha de histórias de amor, talvez o amor que ela sonhasse viver, histórias mal-assombradas, de bruxas e fadas..... Tinha um dom para contar histórias, voz mansa, pausada, às vezes se perdia no pensamento. Nem prestava atenção nos meus olhinhos olhando os delas, que já não estavam mais ali. Vó, continua. Vó, vó! Então ela continuava e eu é que já não estava mais ali. Até hoje sou assim, basta começar uma história e vou embora, deslizando nos pensamentos, entro nos cenários, contraceno com as personagens, sinto cheiros, vejo cores e toco aquelas que me emocionam. Vó terminava o almoço e me levava segurando pela mão lá para o terreiro. Sentava-me embaixo de uma árvore e varria o chão batido de barro com uma vassoura bem engraçada, parecendo vassoura de bruxa, feita de galhos secos. A poeira rodopiando no ar e mais histórias iam surgindo. Ficava olhando minha vozinha, com seu vestido de flores bem miudinha, um chinelo de tiras marrom comprado na feira, tudo combinava com ela, que era pequenina. Inquieta com a vassoura na mão, me levava por mundos fascinantes. Hoje percebo que desde criança me transportava fácil para o mundo de fantasia, a cabeça fotografava cenas criadas por mim, cheia de pensamentos, conversando com as personagens. Menina! Presta atenção. Sim vó, continua. A tarde corria igual a mim, destrambelhada, soprando um vento frio e espalhando as folhas varridas. Lá longe o sol beijava o horizonte. Que ficava com as bochechas vermelhas de vergonha. Vó então dizia, entra menina por causa do sereno. Ah, esse sereno que nunca vi, sempre era um tal de cuidado menina com o sereno, o sereno vai fazer mal, e assim deixei de fazer muitas coisas por causa desse sereno. Maldito sereno. Deve ser muito feio e chato. Entrava correndo, batendo os braços no trinco da porta, vó então ia fazer o café, no bule verde de metal, no fogão de lenha. Ali sentada no tamborete ficava observando aquela mulher tão miuda que cabia tantas histórias.
Cuidado menina, você vai cair. Só anda correndo essa menina. Dá um beijo na vó. Assim eu entrava na casa dela. Sempre correndo, ansiosa para ouvir as histórias que contava. Me colocava no tamborete, junto à mesa da cozinha. Meus pezinhos nem tocavam no chão, ficavam rodopiando no ar, igual a minha cabecinha.Vó conta logo, conta logo. Sorria, se avexe não menina. Entre mexer uma e outra panela, contava as mais belas histórias que já ouvi. Hoje tenho certeza que ela inventava, ou modificava, nunca li, nem escutei nada igual. Tinha de histórias de amor, talvez o amor que ela sonhasse viver, histórias mal-assombradas, de bruxas e fadas..... Tinha um dom para contar histórias, voz mansa, pausada, às vezes se perdia no pensamento. Nem prestava atenção nos meus olhinhos olhando os delas, que já não estavam mais ali. Vó, continua. Vó, vó! Então ela continuava e eu é que já não estava mais ali. Até hoje sou assim, basta começar uma história e vou embora, deslizando nos pensamentos, entro nos cenários, contraceno com as personagens, sinto cheiros, vejo cores e toco aquelas que me emocionam. Vó terminava o almoço e me levava segurando pela mão lá para o terreiro. Sentava-me embaixo de uma árvore e varria o chão batido de barro com uma vassoura bem engraçada, parecendo vassoura de bruxa, feita de galhos secos. A poeira rodopiando no ar e mais histórias iam surgindo. Ficava olhando minha vozinha, com seu vestido de flores bem miudinha, um chinelo de tiras marrom comprado na feira, tudo combinava com ela, que era pequenina. Inquieta com a vassoura na mão, me levava por mundos fascinantes. Hoje percebo que desde criança me transportava fácil para o mundo de fantasia, a cabeça fotografava cenas criadas por mim, cheia de pensamentos, conversando com as personagens. Menina! Presta atenção. Sim vó, continua. A tarde corria igual a mim, destrambelhada, soprando um vento frio e espalhando as folhas varridas. Lá longe o sol beijava o horizonte. Que ficava com as bochechas vermelhas de vergonha. Vó então dizia, entra menina por causa do sereno. Ah, esse sereno que nunca vi, sempre era um tal de cuidado menina com o sereno, o sereno vai fazer mal, e assim deixei de fazer muitas coisas por causa desse sereno. Maldito sereno. Deve ser muito feio e chato. Entrava correndo, batendo os braços no trinco da porta, vó então ia fazer o café, no bule verde de metal, no fogão de lenha. Ali sentada no tamborete ficava observando aquela mulher tão miuda que cabia tantas histórias.
20 comentários:
"Lá longe o sol beijava o horizonte. Que ficava com as bochechas vermelhas de vergonha."
Essa foi a coisa mais doce que li hoje. Pude imaginar esse pôr do sol.
Bjin !!!
Vc me remeteu ao meu tempo de menina e as história que minha mãe me contava,histórias que minha vó contava pra ela.Eu adorava estes momentos nossa!Eu também entrava dentro das histórias longas e encantadas...E um bule verde está nas minhas lembranças também!Mas o das lembranças era esmaltado!rs...
P.S.Mimha avó amava q penteássemos os cabelos dela!
Boa históra Paula!Vc tem que escrever mais histórias assim!
Beijinhos
Maria Dias
é a segunda vez que vc escreve sobre seus avós...e assime estimulou me lembrar da minha bisavó materna que ainda a conheci. Ela era de 1888 (era ela que nos dizia isso - «nasci no ano dos 3 oitos»). Ela era do Ceará e nos contava histórias do Lampião, que nunca soubemos se eram falasas ou verdadeiras. Mas o fato é que eu, menino, fica ouvindo ela a contar as histórias dela do Ceará.
E sabe o que é humanamente trágico nisso tudo...?
Ela morreu, morreu o meu avô, depois morreu a minha avó (a filha dela)...e qnd vou ao Brasil, passo em frente ao predio onde ela morava com meus avós e moram outras pessoas naquele apartamento da minha infância no Rio. E tudo se parece mto estranho. Como se a minha vida tda fosse apenas isso: um sonho dentro de muitas histórias de Lampião.
Gosto mto do que vc escreve...como eu já disse...vc tem uma escrita substantiva!
beijos doces...
Hoje eu começo arrumando encrenca,rs,rs,rs,não é ficção nada, voce acaba de contar a historia de Vó Zulmira, a minha, é exatamente isso, no leva e traz da vida, assim mesmo, a mãe ou avó da paciencia, uma serenidade no olhar e nas palavras, um amor imenso e sem fim, uma paz, viveu uma vida dura pela familia numa cidadezinha do interior aqui de Minas chamada Manhuaçu, já ouviu falar? engraçado que antigamente nem tinha no mapa,agora tem,alias, cidade essa que é a minha New York, quando digo que nasci em Nova Iorque, essa é minha Nova Iorque,rs, mas voltando a dona Zulmira, vivia atras dos netos, meninino não faz isso, menina não faz aquilo, religiosa, olhinos azuis que tambem foram parar no rosto de minha mãe, hoje, dona Zulmira mora na lembrança, de tão boa Deus a levou aos 85 anos em 1986, na unica vez na vida em que adeceu...voce não faz ideia da viagem que sua historia me levou....Quanto aos meus posts, quando eu falo que preciso de suas traduções, preciso mesmo, tá vendo? não tinha me dado conta da essencia "morte" em coincidencia nas tres ultimas, sei lá, tenho explicação não, talvez seja a morte do ano que se aproxima, talvez seja a eterna morte do amor, talvez seja a unica certeza que temos nessa caminhada, talvez ad poesia, sei lá, acho que a proximidade do dezembro faz isso....beijos pra ti, obrigado pelo carinho diario, tenha um maravilhoso final de semana...
Cheiro de infancia faz muito bem pra alma! Sera que a sua avó era a mesma que a minha? Tambem deixei de brincar ao luar por causa do maldito sereno...
...esta sua vó é ficção.
mas esta aqui não.
-vovó, tô com medo.
-medo de que, minha pequena?
-ah,
tenho medo de ficar aqui
no escuro.
-não tenha medo Vivi,
a vovó vai te fazer um leitinho
bem quentinho, e depois vai
deitar-se aí ao seu lado para
te contar histórias até o soninho chegar.
e assim ficavamos todos
os netos amontoadinhos
em volta da contadora
de histórias cheias de
magias.
velhos tempos,
velhos dias.
os melhores da minha
lembrança.
bjusssss, lindeza!
adoro te ler, Paulinha!
i like your blog......
Acho q vovós assim existem na imaginação de todos nós.
beijos e ótimo final de semana
Que delícia ter vó! Elas são as verdadeiras fadas madrinhas!
beijos e borboleteios
Olá Paulo Barros, fiquei emocionado, me fez lembrar de minha vovó Tonica que me levava para dormir em sua cama. E nas noites de inverno, como era gostoso me cobrir com suas colchas multicoloridas feitas de retalhos de tecidos. Quanta saudade. Parabéns. Muita paz, harmonia e inspiração para você.
Forte abraço
caurosa.wordpress.com
Muito boa a história! Caprichastes!
Eu estou aprontando uma postagem com o meu avô. Parece qu hoje é dia do avô rss. Bj
Paula,a sua história é ficção,mas
essa avó é de verdade,ainda bem...
Uma beleza a sua história,com uma pureza de alma que encanta.
Uma ótima noite de sábado,um ótimo final de semana para você.
Abraços.
Amarísio
Tu desencavastes emoções que estavam la no fundo do baú!! Quem não sente um aperto o coração ao ler-te? É como fazer uma longa viagem ao passado, reviver momentos que nada pode resgatar...
Lindo e tocante!
Um beijinho pra ti e bom domingo
Se eu escrever que o texto é perfeito, vou ser repetitiva???
Lindo! E eu lembrei na minha vó...=( Sempre convivi com uma só, mas que vale por duas! Agora ela mora em MT, sempre que posso vou visita-la...Mas faz uma faaaaaaaaalta...
Beijão, Paula!
As avós e seus conselhos para tudo e para todos.
Beijo Paula
saudades...se pudessemos voltar no tempo...
bjosss...
Oi fia que porreta seu texto, digo mesmo um tewxto lírico do cabrunco, demais!
BJS
O Sibarita
No nosso imaginário existe uma avó que nos protege, nos ensina, nos leva a viajar por contos mágicos...
Essa avó é uma luz que nos orienta, é uma voz que vem do fundo dos tempos...
Gostei de ler.
Jinhos * *
Paula,
como ficou delicioso o teu texto! As imagens foram vindo à minha mente, uma a uma...
E a vassoura da Vó Vitalina era fetia de guanxuma.
Abraços, flores, estrelas..
Me levou novamente na máquina do tempo e me rever nas minhas recordações.
Beijo
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