terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O caseiro e a louca
Lá no alto, numa chácara distante, de bolas cor-de-rosa com tons amarelados, morava Elizabeth. Diziam que era louca, perversa, talvez. Ninguém a compreendia. Nem ela mesma. Numa madrugada, de lua que pretendia ser cheia, ela ouvia vozes. O caseiro, Albert, rapaz de cabelos macios, sedosos, brilhosos feito a lua quase cheia, vinha perturbá-la. Da sacada da janela dizia coisas que ela não compreendia, numa linguagem raivosa, facadas perfuravam a mente. Quando questionado, afirmava a que só responderia na segunda-feira. Era uma madrugada quente de um sábado tedioso. Interessante demais esse sábado. Muito longe de uma segunda-feira que poderia não vir. Um encontro de loucos ao luar. Elizabeth – a má, era tão perversa, que seria capaz de extinguir todas as segundas-feiras do seu calendário. Jamais ouviria respostas na segunda-feira. Nunca numa segunda-feira. Era má, muito má. A ponto de ficar sem respostas. Faria perguntas todos os dias. Mas detestaria segunda-feira. Ficaria surda nas segundas-feiras e sorriria. Na chácara, de gente, só eles. O resto, animais. Alguns moribundos. Animais cansados de pensar. Elizabeth e Albert, cansados de serem normais, brincavam de desencontros, responder era um jogo de garfadas, uma forma de se esconderem de si mesmos, preferiam o instinto animal que os aproximava. Lobo em noite de lua cheia ou quase cheia. Com sorrisos de hiena. Elizabeth, chamada carinhosamente por Albert de a louca, sem definição. Definição, esclarecimentos, respostas só na segunda-feira. No íntimo se sentia elogiada. Somente louca, conseguia conversar com Albert – sábio mau humorado que sorria e – uivava de vez em quando, enquanto a lua crescia. Elizabeth – a má, babava ironicamente, enquanto a segunda-feira não chegava. Trincava os dentes. Não podia falar de amor, nem escrever sobre esse tema abominável. Nem saudade, nem beijo, nem abraço. Albert ficava irritado quando ela falava sobre esse assuntos tediosos. Elizabeth falava porque não sabia vivê-los. Esperava o amor nas segundas-feiras que nunca chegava. Nem chegaria. Ela baniu as segundas-feiras. Elizabeth – a má, provocava, adorava gente má. De gente má ela entendia. Tinha má até no sobrenome. Não se assustava com a loucura de Albert . Loucura não se transmite. São acordadas nas madrugadas.

28 comentários:

FRAN "O Samurai" disse...

Oi amiga!

Uma história bem interesante! Meu Deus! Acho que a loucura toma conta de muitos aqui. Hehehe! As vezes a loucura quebra a rotina! Um pouquinho disso talvez seja interessante!

beijos.

Carla disse...

Que loucura!!! rsrsr

Texto muito bom, nos faz rir e pensar ao mesmo tempo.

Vivian disse...

...quantas vezes nos escondemos
sob o manto da loucura,
para disfarçar a ternura
que grita pedindo amor?

pense...

post profundo.

bjus, linda

Franzé Oliveira disse...

Loucos? Então estamos rodeados deles. Bjos com ternura amiga.

Elcio Tuiribepi disse...

O livro é prá lá de bom...na cidade onde trabalho tem muitas pessoas com problemas...chega a ser engraçado...é cada um que me aparece que você não faz idéia...
Tem um senhor que aparece pelo menos tres por dia, fazwendo as mesmas peguntas, e eu dou as mesmas respostas...rsss...to ficando loucooooo..rss...uma abraço na alma

Ava disse...

Não sei porque, mas de leve me lembrou o Morro dos Ventos Uivantes...
Será que não esta na hora de pensar em escrever um livro?
É um belo Conto...

Parabéns!


Beijos e carinhos

vagabundo disse...

minha doce e maravilhosamente Louca... Sua criatividade é ímpar.
a palavra segura e dirigida...e o Saber de quem Sente.

Tanto mau livro publicitado e vendido...e voçê dando arte aqui.

Bj,

ps:Tenho uma caixinha cheia de comentários do "Koppos". Lá não se "deleta" nada... Gostamos muito de quem "paga" os "copos" que "bebe". Quem sabe um dia o Gerente não tem uma recaída e publica tudo outra vez?!...
Comente sempre...
meu ego agradece.

Eu disse...

Bom dia Paula!
Eu poderia entra aqui e lhe desejar apenas um dia bom! Mas meu coração deseja ao seu muito mais, ele espera que este seja um dia de vitórias e realizações.
Que ao terminar o dia, o saldo seja positivo e o seu coração pulse agradecido por ter tido um dia feliz!

Um abraço carinhoso

Serena Flor disse...

Seu texto é muito interessante minha amiga!
Dizem que de médico e louco todos temos um pouco...acho que é bem por aí!rsrs
Um grande beijo na alma e um belíssimo dia pra você!
E obrigada pela gentil visita ok?
Volte sempre que quiser....será muito bem vinda sempre!

Verônica Carleti disse...

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar,volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
"Fernando Pessoa"
Lindo né... para você!!!

Maria Dias disse...

Paula, estou aqui de queixo caído.
Este conto me pareceu sair de um livro já publicado! Menina! Vc tem q escrever mais coisas assim viu? Achei intrigante e fascinante ao mesmo tempo e tb algo gostoso de se ler.Parabéns vc SÓ arrasou!rs...

Beijinhos

Maria

Anônimo disse...

Oi Paula..

Esse seu conto quase me deixou mais louca do que já me considero rs.
Um belo conto..
Que me faz sentir que á muitas pessos que usam o manto dos loucos para debaixo deles esconder seus verdadeiros e intensos sentimentos!!

Beijos

Anônimo disse...

Um texto intrigante, me passa pela cabeça a ficção estampada na lua de Albert e Elisabeth, mas tambem me passa uma historia de suspense, onde existe uma louca e um caseiro, lê-se mordomo, pra termos a quem culpar caso haja uma morte, mas tambem fica na impressão duas pessoas de um lugar distante prontar pra uma torrida historia de amor, sexo e extase, nossa, cabem tantas coisas a serem feitas com tais personagens, que me pareceram nada ficticio, mas enfim, adorei o trecho em que os animais estavam cansados de pensar...rs..rs...muito bom, e com certeza existem muitas loucuras pelas madrugadas...e como existem....adorei....beijos em seu coração, tenha uma linda quarta feira....

Anônimo disse...

Psiu, voltei...rs..rs...voce acaba me fazendo voltar, se realmente o comentario foi aquilo tudo que voce falou...rs..rs..rs...foi por eu ter me envolvido com seu texto, fiquei aqui imaginando diversos caminhos que ele oferecia, penso que foi mais uma daquelas viagens que a gente faz com as maravilhas que voce escreve, do que algo fantastico como voce disse,...rs..rs...rs...mas agradeço o carinho de semrpe, e por isso senti sua falta quando não vem, alias, voce está em debito comigo no post "Expresso da Madrugada"..rs..rs..rs...não vi seu comentario nele, e sabes que é imoportante, quanto a flor do jardim, é claro que pode ser, deve ser, a gente é quando sente na poesia algo que vem de dentro, algo que nos fisgou...alias, uma proposta, a gente poderia fazer um dueto qualquer dia desses, que tal? acho que seria legal...beijos e mais uma vez obrigado pelo carinho....

Camila disse...

Loucamente sensata, a Elizabeth!
Creio qye deva existir muitos Albert`s por aí.

Beijo Paulinha!

Zek disse...

Nossa comecei a pensar lendo esse texto, quantos ALbert´s existem por aí... sera que há um pouco de ALbert em todos nós ?? .

Mas de qualquer forma adorei, vejo uma escritora se solidificando aí !!!

Bjs!!

Luciene de Morais disse...

Paula
Muito, muito, muito bom seu texto!
Não podia falar de amor, a louca Elisateth... seu Albert não permitia.
Mas também não sabia vivê-lo, por isso necessitava falar... e esperar, todas as segundas, que até já havia riscado do calendário. Interessantíssimo.

Luciene de Morais disse...

Evidente que é um acordo, insano, raivoso, às garfadas, cheios de jogos de poder e sorrisos de hiena... mas um acordo! E cheio de impossibilidade de paz.
Albert, o mau humorado, entediado, sarcástico, descrente, irritado e indiferente, que às vezes uiva, às vezes esfaqueia a mente... NÂO deixa de ir perturbar a má Elisabeth.
Esta, tolhida, 3 vezes tolhida, e fica! NÂO
deixa de provocar E esperar resposta de fonte incerta, muito e provadamente incerta.
A verdade... escondem-se de si mesmo!
Muito bom, de novo!!!!
Parabéns

Poeta Mauro Rocha disse...

Que texto interessante, gostei da loucura inserida.

Bjs.

Uma aprendiz disse...

Interessante. Uma loucura tentar entender as entrelinhas do seu texto.
E que chegue a segundona.

beijo

Cleo disse...

Ui, será que estou loucaaaaa....
sem brincadeira agora, belo texto para exemplificar alguns momentos em que temos vontade de ser assim, loucos, e deixar o mundo fluir loucamente.
Bravo prá você Paulinha, é sempre um prazer vir te ler.
Beijos carinhosos.
Cleo

netuno artes disse...

Gostei muito, texto muito bom: a arte é isso criarmos sem parar seja qual for a forma da manifestação !
Obrigado pela visita, abçs

Daniel Savio disse...

Depende de cada pessoa, pois o que pode ser loucura para uns, pode ser a sanidade de outros...

Fique com Deus, menina Paula.
Um abraço.

Unknown disse...

Paulinha loucura mesmo viu..

tomar conta...affe...

bjao

:.tossan® disse...

Não entendi nada muito confuso. Bj

Assustei meus medos:
quando disse que os enfrentaria,
eles ficaram com medo! Net

Menina do Rio disse...

Belo texto! Que a loucura se perca na noite de uma segunda feira!

Um beijo

Café da Madrugada® Lipp & Van. disse...

Que texto ótiiimo!
e olha quantos elogios! haha.
Que booom, que booom!

Acho que existe um pouco dos dois personagens em todos nós. E a loucura, às vezes é só disfarce... Pra não ser ou parecer tão vulnerável ao amor.

Van.
Beijos!

O Sibarita disse...

Moça me diga uma coisa, esse caso não terminou em um love entre os dois, não? Eu não acredito! kkkkkkkkkk

Porreta!

bjs
O Sibarita