sexta-feira, 1 de julho de 2011

Estado

Autores: Eder Ribeiro e Paula Barros 
30/06/11



Definitivamente não sou um homem de fases, sou sim, um homem inconstante, tal quais as estações em um país tropical, não bem definidas. Quanto tempo dura um inverno? Não sei. Que importância tem isso agora. Sei, e muito bem, a perda fez um inferno dentro de mim e mesmo assim, permaneci gélido. Ela se foi e deixou um inverno interminável, sofri infernos. Mas o que é o passado senão cinzas que nunca abrasarão. É primavera, preciso abrir janelas e portas, lá fora o dia é um quadro de Matisse, ou então um quadro cubista de Picasso. Preciso da brisa da estação para retirar de mim este cheiro guardado de guarda-roupa velho. Lá fora uma nova época, mudanças, transformações, o belo, a harmonia, o desabrochar. E eu? Tão inverno ainda. Vivendo este inferno de lembranças e dúvidas. Das flores preciso das tonalidades das cores, dos cheiros variados, das diversas texturas e formatos. Preciso não só abrir janelas e portas que dão para o mundo, preciso abrir minhas janelas e minhas portas, abrir os sentidos para um novo sentido de vida. Depois que ela se foi, eu precisava de um recife para me incrustar e esquecer que um dia a amei. Não tive, sobrou-me Recife para destrancar o meu necrosado coração. Mas esqueci que o sofrimento, as situações mal resolvidas, vão conosco onde estivermos, e que as mudanças de estações servem para reflexões, mas as nossas estações têm tempos indefinidos, como são as estações do ano em um país tropical. A perda sempre arrecifa o meu coração, decididamente não sou um homem de fases, sou sim, um homem de um único estado, a solidão.




Convido a conhecerem o blog de Eder.
E confiram a qualidade dos textos dele.

11 comentários:

lis disse...

Fui conhecer o blog do Eder , o "Gotas de Prosias" e vou virar fã ! gosto de boas leituras.
Excelente essa cumplicidade de um complementar o texto do outro, bom claro, pra quem sabe escrever , como é o seu caso.Parabéns.
Que o estado de solidão seja leve, salutar e nao só um inverno cinzento,mas pintado com cores da primavera, sol do verão e ar tépido do outono.
abraços

Anny Guimarães disse...

Paula que mensagem linda, vou lá conferir o blog do Eder, obrigada por compartilhar tão boa leitura conosco...estou seguindo você, pois gostei muito do seu blog tb.
Beijinhos no s2 e um ótimo fds pra vc :)

Anny

eder ribeiro disse...

Paula, seria ideal mesmo uma dança para a personagem dempredar este coração.

Ele foi dançando, afinal, a vida, também, é feita de alegria, de o primeiro passo, quando percebeu estava em outra estado, o da felicidade, o salão de dança era sítio para se tranformar...

Bjos.

Anônimo disse...

Oi;

É existem momentos que temos que limpar algumas lembranças, algumas dores, enfim, existem momentos que sorrir não faz sentindo diante da dor de amar, ou da dor de não ter o teu amor ao seu lado. Mas como um passe de mágica, um dia você acorda e percebe que aquela pessoa é apenas uma poeira que estava ali, só precisa limpar e a vida volta ao normal.

Lindo texto!

Venha visitar-me!!!

Anônimo disse...

Paula!

Não apagar a noite dos lábios
deixar que se adivinhe
a curva exata dos gestos
e neles encontrar o lugar possível da luz.
Talvez esta seja a única forma de
se fazer desmoronar abismos.

Um beijo

Maria Dias disse...

...Escrevendo assim ele só fica no inverno se quiser...rs...Brincadeiras a parte seu amigo escreve lindamente e eu q nao sou boba nem nada já tô abrindo uma janelinha do Avesso pra lá!

Obrigada por nos apresentar o Eder!

Beijinho

Maria

mfc disse...

Um texto forte e sentido.
Tocou-me.

SOL da Esteva disse...

Paula

Do inverno não se sai quando se quer, mas quando ele termina.
Aqui, em Portugal, as aves migradoras partem rumo ao sul, para lugares mais quentes.
As pessoa, as gentes como o Eder, têm de fazer o seu luto e se não quer partir para lugares diferentes, viver das boas recordações; elas existem e estão bem vivas, como se percebe no texto.
Boa Escolha.
Agradecido.

SOL da Esteva
http://acordarsonhando.blogspot.com/

Insana disse...

Perfeitas palavras sobre o seu ser...

bjs Insana

Eu disse...

Intensamente profundo e contagiante esse enredo que nos move do início ao fim!
Já vi que ficarei ainda mais fã dessa dupla maravilhosa!
Beijos para ambos

Sonia Pallone disse...

Querida, reproduzo aqui, o mesmo comment que deixei no Eder:

"Não tem coisa que me fascina mais, do que uma bela prosa poética, feito esta que encantou por demais meu coração...Paula Barros, já admiro faz tempo, e agora, a 4 mãos com você, tudo que era lindo, ficou maravilhoso!!!"

Beijão, parabéns pela dupla, a poesia com certeza, ganhou novo brilho...