sexta-feira, 15 de novembro de 2013



Sempre penso que você me enche de vida. E a vida está transbordando. E a vida está gritando para ser vivida. Se acalma vida, vou sair por aí, vou viver. Preciso de muitos dias, preciso de disposição, estou cheia de vida, de vida que você me enche. Os pássaros cantam. Me entreguei a eles com vontade de sorrir, então vivi. Encontrei um jovem bebendo aguardante com coca-cola sentando na esquina da rua, era apenas oito e trinta da manhã. E disse sorrindo, tão cedo e bebendo. Ele me sorriu, faltava um dente. Um sorriso bonito. Mas pensei, quem sou eu para falar do vício dele, são só oito e trinta da manhã e eu estou com vontade de comer chocolate. Ele me falou das dores dele. Da morte da mãe quando ele era criança. Falou da mágoa e do mágoa. É, ele falava as palavras no masculino e no feminino. Lembrei de você. Não, você não fala as palavras no masculino e no feminino, você fala dos seres humanos, das  singularidades deles e das dores que cada um carrega. Fala da complexidade de ser humano. E fala da perda da mãe, sim da perda da mãe. Minha mãe vive, então eu não entendo da perda da mãe, entendo da perda do pai. O sol brilhava entre as árvores, esquentava a pele, e eu segui, com vontade de viver, de chorar também por causa da conversa com o jovem que bebia e que tinha tanta sabedoria no seu sentir. Mas adiante encontrei Luan com a avó. Luan só tem dois anos, e a avó, analfabeta, não sabia assinar o nome na requisição do exame, e a avó cuidava do neto, e a avó gritava o tempo todo para o menino ficar quieto. A avó não tinha muita paciência. Penso que entendo a avó. Luan não era tão danado. Ela gritava mais do que ele trelava. A avó de Luan deve estar nas estatísticas dos analfabetos e das avós que cuidam dos netos. A vida nem sempre é justa. Ela criou os filhos, agora cuida do neto. Deveria estar apenas curtindo a vida. Segui, ainda tinha muito a caminhar, ouvindo os pássaros, sentindo o sol na pele, e o vento a amenizar o calor. Surge Lucas numa cadeira de rodas. Falante, pernas atrofiadas, cheio de sorrisos. Talvez tenha uns quatro anos. Estava alegre por ter ganho uma lupa. E com a lupa, dizia ele que tinha achado um caminho. Não sei do que ele brincava, tentei interagir com o caminho achado por ele, mas ele rodopiou a cadeira e seguiu na brincadeira. Acho que ele brincava de detetive, saiu rodando pela farmácia a achar caminhos.  E eu seguia o meu caminho, pensando em você, pensando na vida.

6 comentários:

myra disse...

pAULA, FIQUERI MUITO EMOCIONADA COM ESTAS TUAS PALAVRAS...QTA VERDADE...EMOCAO ENORME...
TE QUERO TANTISSIMO E TE ADMIRO TANTO!!!
BEIJOS INFINITOS...

Lucia disse...

Dormi e acordei lendo a sua estória.
Acho que foi a estória da avó que deu sono, mas agora acordada sinto que vc sofre com as histórias dos outros que conta, as histórias parecem ser seus filhos e isso emociona. Pensei nisso e em você também.

Cidália Ferreira disse...

Que bonito texto (história)
Emocionante! É assim a vida.

Beijo, bom fim de semana.
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Lídia Borges disse...


Ler foi um prazer. E quando assim é... Ganha-se!


Um beijo

Insana disse...

Profundo...
Bjs
Insana

O Sibarita disse...

Realmente a mil este texto! kkkk

Ô moça, que bom vc ter conversado com o jovem quem sabe que a partir dali ele repense a vida, né não? kkkk

É isso, vc toda cheia de vida, no vigor físico invejável, como dizemos por aqui: "Se o coração bate a carne treme, né não? kkkkk Ô coisa gostosa! kkkkkkkkkkkkkk

A perda de mãe e pai é dolorida mesma e só que já perdeu sabe do que falo.

No caso seu belíssimo texto são exemplos de vida que vc encontrou na sua caminhada matinal! kkkk

Mas, sempre lá ele pensa em vc, aliás, s reparar os textos de lá ele...

Eu adoro ler seus textos, me dá um tesão retado! kkkkkkkkk

O Sibarita